RIBEIRÃO PRETO
26 DE NOVEMBRO
Quinta-feira
20h00
THEATRO PEDRO II
R. Álvares Cabral, 370
Centro | Ribeirão Preto
Informações: (16) 3977-8111
Programa
Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791)
Quarteto para cordas n° 15, em ré menor, K. 421
Allegro moderato
Andante
Menuetto and Trio. Allegretto
Allegretto ma non troppo
Johannes Brahms (1833 – 1897)
Quarteto para cordas n° 2, em lá menor, Op. 51 n° 2
Allegro non troppo
Andante moderato
Quasi Minuetto, moderato
Finale, Allegro non assai
Um time de peso do cenário da música clássica brasileira, o grupo reúne o violinista Pablo de León (um dos mais proeminentes violinistas do Brasil, atualmente spalla da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo), o violista Horácio Schaefer (uma unanimidade da viola nacional, atualmente chefe do naipe das violas do Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) e o violoncelista Roberto Ring (já integrou a Orquestra sinfônica de Campinas, a OSESP e a Orquestra de Câmara Villa-Lobos e nos últimos anos tem tido intensa atividade como músico de câmara).
Juntos desde 2001, o grupo já ultrapassou a incrível marca de mais de 600 concertos realizados no Brasil, Argentina e Chile, recebendo convidados do mundo todo, como os clarinetistas Michel Lethiec (França), Antony Pay
(Inglaterra) e Romain Guyot (França); os violinistas llya Gringolts (Rússia), Régis Pasquier (França), Hagai Shaham (Israel), Isabelle van Keulen (Holanda), Cármelo de los Santos, Cláudio Cruz, e com os pianistas, Roglit Ishay (Israel), Emmanuel Strosser (França), Cristian Budu entre outros.
Para o concerto dessa noite, o convidado é um grande virtuoso do violino, o israelense Roy Shiloah. Músico de um talento impar, estreou com a famosa Orquestra Filarmônica de Israel e o maestro Zubin Mehta com apenas 12 anos. Foi agraciado com primeiro lugar em importantes concursos como o François Shapira (1992) e o Concurso Clairmon em Israel (1991, 1992). Atualmente Roy faz parte do corpo docente da Academia de Música e Dança de Jerusalém.
Quando se divide a História da Música em períodos, o Classicismo corresponde à segunda metade do século XVIII, enquanto o século XIX ao Romantismo. Tomados individualmente, porém, os compositores são figuras complexas, que se recusam a entrar confortavelmente nas gavetas que os estudiosos reservaram para eles. Temos um retrato disso no concerto de hoje, que coloca lado a lado, Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), o compositor mais romântico do Classicismo e Johannes Brahms (1833-1897), o mais clássico do Romantismo.
No período clássico, esperava-se que um compositor fosse empregado de um patrão aristocrático. Pois bem: Mozart rompeu com esse estilo de vida aos 25 anos, em 1781, ao ser despedido de seu emprego (com um chute no traseiro, como descreveu em carta ao pai) de músico da corte do arcebispo Colloredo, em sua cidade natal, Salzburgo, para tentar a sorte em Viena, onde viveria como freelancer, de aulas de piano, de concertos como virtuose do teclado, e da venda de suas obras. Uma estratégia que se tornaria a regra para compositores do século XIX, mas que até então, era inusitada.
Na capital austríaca, Mozart se casou com a jovem Constanze, e homenageou seu amigo, o maior compositor da geração anterior, Joseph Haydn (1732-1809), com uma série de seis quartetos de cordas. Consta que Haydn e Mozart, ao lado de dois amigos, tocaram essas obras para o pai do compositor, Leopold Mozart. Após a performance, o Haydn disse a Leopold: “seu filho é o maior compositor que conheço, pessoalmente ou de nome”.
O quarteto que ouviremos hoje, K. 421, em ré menor, só faz reforçar o vinculo de Amadeus com um Romantismo que teoricamente, na História da Música, ainda estava por vir. A obra foi concluída em 17 de junho de 1783, o mesmo dia do nascimento de seu primeiro filho, Raimund Leopold. E, dos ses quartetos dedicados a Haydn, é o único em tonalidade menor – o que, nas convenções da época, significa intensidade emocional, paixão e dramaticidade, qualidades que costumamos associar à sensibilidade romântica.
Já Johannes Brahms (1833-1897), um alemão de Hamburgo que passaria boa parte de sua vida criativa na mesma Viena em que floresceram os talentos de Haydn, Mozart, Beethoven e Schubert, era absolutamente consciente dos méritos, realizações e ideais dos compositores das gerações anteriores, que parecia querer reproduzir em seu tempo.
E o intimismo e a concentração de um quarteto de cordas soavam um pouco deslocados no bombástico mundo da música da segunda metade do século XIX, em que as atenções do grande público estavam mais voltadas para as pirotecnias pianísticas de Liszt, para as visionárias partituras orquestras de Berlioz, ou para as grandiosas óperas de Wagner.
Brahms interessava-se por continuar a tradição da música instrumental das formas que herdara do Classicismo, como a sinfonia e o quarteto de cordas, mas, ao mesmo tempo, não se contentava em meramente repetir o que herdara do passado. Perfeccionista, polia cada uma de suas obras como uma joia rara, até que chegasse a um nível que ele considerasse bom o suficiente para publicação.
No caso dos quartetos de cordas, o compositor destruiu nada menos do que vinte obras do gênero ao longo de anos, até que, com 40 anos, em 1873, finalmente mostrasse ao mundo seus dois primeiros quartetos: o Op. 51 N° 1, em dó menor, e aquele que ouviremos hoje, o Op.
51 N° 2, em lá menor.
Ao comparar o Op. 51 N° 1 e o Op. 51 N° 2, os críticos costumam considerar essa segunda obra um pouco menos austera que a anterior, e perpassada por um lirismo bastante característico. Fruto de duas décadas de trabalho abnegado, retrata a personalidade amadurecida de um artista avesso à auto-promoção, que preservava a vida privada e acreditava que sua obra devia falar por si só. E, como fica claro após a audição de cada uma das peças, o que sua obra tinha a dizer não era pouco.